quinta-feira, 21 de junho de 2012

O Preço



Para tudo que se pretende fazer, deve-se ter em mente que te custará algo. Principalmente se tu pretendes realmente fazer algo que valha a pena.
No auge dos meus três dígitos na balança jamais pensei me tornar um atleta, com uma vida regrada, cheia de táticas treinos e metas. Pois bem cheguei, e fiquei nessa zona de conforto por algum tempo.
Mas a falta de preparo, orientação e, principalmente minha crônica teimosia me levou à uma condromalácia patelar, lesão muito comum entre os atletas que praticam esporte de alto impacto, como o caso da corrida.
Já se foi pouco mais de um mês desde a lesão e começo a sentir o preço de não treinar.
1.    Falta de treino
2.    Falta de ritmo
3.    Ganho de peso
4.    Tristeza
5.    Ansiedade
6.    Pensamentos negativos
7.    Pessimismo
8.    Enfiei-me de cabeça no trabalho
9.    Falta de bater papo com o pessoal
10. Estresse

Hoje, dia 21 de junho tenho consulta marcada, e provavelmente essa ressonância ainda se arraste por mais 15 ou 20 dias... Enquanto isso minha cabeça se enche de bobeiras. Sério, não consigo ser otimista.
Pensei em pedalar para passar o tempo e, principalmente para não perder meu condicionamento, ou até mesmo nadar um pouco já que tenho, ou pelo menos tinha planos para o triátlon, mas pelo andar da carruagem... Nada feito, um bilhão de barreiras surgem para me impedir de realizar essas atividades. Sem natação, sem bicicleta e sem corrida.
Estou muito longe daquele cara de poucas semanas atrás, embalado, em plena forma física, endorfinado, com a faca nos dentes. 

Daqui a pouco vou me tornar um daqueles atletas de fim de semana.

É bem triste!!!



quarta-feira, 20 de junho de 2012

Corrida do Coração



Quem já levantou cedo calçou o tênis e foi para a rua correr sabe o quanto é emocionante. São muitas emoções, que começam muito antes da largada, tu já sentes a adrenalina na retirada do kit um dia antes, durante a semana, geralmente se traça um plano, uma meta e uma estratégia para a peleja.
O coração deve estar preparado, sem dúvidas, e o meu estava. Ah, se estava... Preparado e apertado.
Na segunda, dia 11 de junho às 21h30min o telefone toca e eu tenho que sair correndo (de carro) com a Vivi para o Hospital. O Rodrigo resolveu queimar a largada. Foi uma noite daquelas, que além de ter que voltar pra casa sozinho ainda ocorreu dois outros grandes “eventos” nessa mesma noite que nem vou citar aqui, pois realmente parece demasiado por demais, dá até impressão de ser um roteiro de novela mexicana.
A semana se arrastou da mesma forma, árdua, amarga, difícil, sem treino e com trabalho às tampas. Na sexta, dia 15, por volta do meio dia meu celular toca e a voz que ouvi do outro lado me fez tremer e subir um frio em minha espinha: “Alô, Ademir. Aqui é o doutor Paulo, como vai? Vem pra cá que teu filho nasce hoje”.
O guri é apressado, aprendeu com o pai, mas essa ansiedade pré-parto tem um custo, nasceu com quase 45 dias de antecedência. Nos deu o maior susto, mas ele está bem.
Agora juntando os dois assuntos tratados acima, tenho muitos motivos para colocar meu coração nesse post, pois, além de tudo que me aconteceu, ainda o escrevo na madrugada do dia 21 de junho, ou seja, solstício de inverno, meu velho amigo está de volta, chegou, nessa noite que é a mais longa do ano no hemisfério sul, a noite em que o Liróca subiu até a torre da Igreja para abrir fogo contra o Sobrado na trilogia O Tempo e o Vento. Nada mais propício para um post como esse, onde o coração é quem manda. Esse coração gaúcho que bate aqui nesse peito está apertado, mas feliz.
Eu diria que minha maratona começou, de fato com o telefonema da Vivi, soma-se a semana bem cheia no Colégio e o nascimento do Rodrigo na sexta, foram mesmo muitas emoções. No sábado bem cedo, o Alcides e eu fomos retirar os kits, já foi mais um aperitivo, pois já deu pra sentir o clima que estava no Ibirapuera. Já o domingo começou ainda mais cedo às 5h00. Peguei o Alcides e o Sensei e por volta das 6h20 min já estávamos no ônibus do evento rumo à Estaiada. O coração batendo forte, pois nunca havia participado de uma prova tão badalada, com link ao vivo e transmissão na íntegra pela Rede Bobo, opa, quer dizer, Globo de televisão – Pelo menos o futebol ficou uns minutinhos de lado, né?.

O coração levou outro susto ao sinal da largada, pois o sistema de som não estava nada nítido no ponto onde me posicionei e não consegui ouvir a contagem regressiva. Se é que teve! Quando dei por mim, ouvi algo que parecia uma explosão e o pórtico subindo, era um sinal para eu correr, só isso. “Corre, Forest, corre”.
Subi pela segunda vez a Estaiada, como é lindo estar lá em cima, mais lindo ainda foi na chegada do quilômetro 1 já na Pinheiros, olhei para a ponte que eu havia acabado de passar e um “mar de gente” estava triunfante sobre ela, que cena linda, inesquecível, indescritível. Por um minuto o tempo parou para eu olhar aquilo, não consigo explicar, só consigo sentir. Como é bom viver. Mas meu coração não estava na corrida.

Os quilômetros foram sendo vencidos um a um e na altura do quinto havia um pórtico separando homens de guris. Meu coração teve um misto de alegrias e tristezas. De alegria por estar correndo, uma vez que isso já esteve ameaçado, e de tristeza porque minha meta não era apenas os dez. Mas não tem problema, o Lênin certa vez disse que de vez em quando devemos dar um passo pra trás para depois dar dois adiante, e esses dois adiantes darei em breve, muito em breve.

Meu coração se alegrou por poder mais uma vez subir rumo ao Ibirapuera, se alegrou e sorriu mais uma vez ao ver o Monumento às Bandeiras, que outra vez me olhou e disse: “Avante, corredor, não desista, falta pouco”.  Meu coração se alegrou mais uma vez quando enxerguei o pórtico de chegada, e, principalmente se alegrou ao cruzá-lo. Logo adiante encontrei o amigo Alcides, feliz com minha chegada, me parabenizou e disse que mais uma vez eu o surpreendi, pois, mesmo com a lesão no joelho eu sigo em frente, não entrego os pontos, sigo buscando meus objetivos. 

Outras emoções me aguardavam, e uma delas foi colocar a medalha, mais um símbolo dessa vida de superações, no peito, outra emoção, logo depois foi acompanhar, pelo telão a emocionante chegada do Solonei, que depois passou na minha frente, sim, bem na minha frente para sua glória. Ainda voltou para pegar a bandeira do Brasil com uma guria que estava bem pertinho de mim. Que emoção, haja coração. Mas meu coração não estava na corrida.

Muitas coisas se passaram pela cabeça, embora eu saiba – como bom investigador científico que sou – que o coração não é o órgão responsável pelas emoções, eu o usei para tentar demostrar, sem muito sucesso, creio, como foi e está sendo tentar ser forte em um momento de fraqueza. Meu coração está segurando muito bem essa barra. Joelho lesionado, convênio burocrático, ilegal e imoral, sem treinamento, muito trabalho, ganho de peso, problemas de saúde na família e agora, meu pequeno Rodrigo lá internado. 
Ainda me lembro no silêncio que vinha da sala ao lado naquela tarde no hospital que foi irrompido por um chorinho agudo em plenos pulmões que fez meu coração de pai saltar. Ainda me lembro a cena da Estaiada tomada de corredores. Ainda me lembro da cena do pórtico subindo e a corrida começando. E ainda me lembro do rostinho dele, e posso sentir e reviver a cena de tê-lo visto pela primeira vez, como eu sonhei em olhar pra ele pela primeira vez, e quanta coisa eu tenho para lhe dizer, para lhe ensinar.

Filho, não sabes o quanto me é penoso deixa-lo dentro dessa sua “casinha de plástico”, mas é para o teu bem, e isso me conforta. Um dia tu lerás essas linhas e saberás o quanto esse teu velho amigo torceu por ti. A única coisa que posso fazer por ti, por enquanto, é colocar minha mão na tua cabecinha de gurizinho, que é bem menor que ela e tocar teu corpinho frágil e magro, tocar tua perninha cumprida que já imagino na maratona, tocar teus braços ainda fraquinhos e longos e imaginá-los batendo na água. A Mamãe já está uma pilha de nervos pois, eu já avisei que nós completaremos o Ironman juntos quando você estiver com 18 anos. Sai logo daí, filho. Estou aqui com o coração apertadinho, que não estava na maratona por estar aí contigo o tempo todo. Não houve um só centímetro dessa corrida que eu não tenha pensado em você. Essa medalha é tua também, pois me incentivou a ir buscá-la.
A melhor sensação que tive até hoje foi a de poder tocá-lo. Se quer pude pegá-lo no colo, mas esse é o trabalho do pai, agir nos bastidores para que nada saia errado. Quando ouvi seu choro, ou quando eu coloco minha mão na sua cabeça percebo que nada do que fiz até hoje tem expressão perto desses singelos gestos, nada na minha vida valeu tanto a pena, embora eu não tenha ainda se quer sentido os seus 1,890 kg em meus braços. Quando você vier pra casa colocarei em ti todas minhas medalhas, e um dia tu terá orgulhos desse teu pai que tanto te ama.

Meu coração não estava na corrida, nem mesmo estava aqui no meu peito, meu coração está dentro daquele hospital, dentro daquela incubadora, dentro daquele serzinho que carrega meu sobrenome, meu sangue. Meu coração não me pertence mais, nunca mais.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Será?






















O
B
S
E
S
S
Ã
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O Legado



Existe um discurso reacionário que algumas pessoas de forma irracional insistem em reproduzir sem se darem conta do que estão falando: “Temos que pensar no mundo que deixaremos para nossos filhos”. Pois eu penso que o tipo de mundo que deixaremos à nossos filhos passa pelo crivo dos filhos que deixaremos para o mundo. Não adianta nos isentarmos de determinadas responsabilidades, em outras palavras, simplesmente empurrar o problema com a barriga.
Por isso, com muito orgulho domingo levei meus sobrinhos – e filho também, se pensarmos que o Rodrigo estava na barrigona da mamãe Vivi – ao estádio Ícaro de Carvalho, no Ibirapuera para participarem da Maratoninha de São Paulo. Foi uma tarde muito divertida, com direito a foto com Paul Tergat, medalha de participação alusiva às oficinas de esportes.

É muito importante que eles sintam o clima da corrida, a atmosfera que cerca um evento onde as pessoas superam sempre seus próprios limites. Seja lá qual mundo essa nova geração vai ter, pelo menos teremos corredores de rua. Sigo fazendo minha parte. 












Segue o Baile



Abre essa gaita tchê. Que “boeno”, num domingo bem “cedito” levantar e ir tomar o minuano “nas guampa”.
Sabe aquele ícone de obsessão? Que tu sente que sem ele sua vida não será a mesma coisa? Pois bem, uma dessas minhas estranhas obsessões era a medalha do Circuito Popular de Corridas de Rua. Evento promovido pela Prefeitura de São Paulo, mas que só pode fazer a inscrição pessoalmente. Bom, por isso que não conseguia me inscrever, mas como tenho amigos...
Cheguei no local da corrida por volta das 7h00 e já vi o movimento dos amigos da CET interditando  a rua pela qual correríamos, o legal foi conhecer mias um parque aqui da cidade que eu desconhecia, pois é, como essa vida de corredor tem me ampliado horizontes.
O Parque do Trote me pareceu com um aspecto um pouco abandonado, se bem que não o conheci em sua totalidade, posso até estar falando bobagem. Mas pelo menos a pista de corrida poderia estar em melhores condições. Ah sim, sem falar no susto que levei, pois havia militares por todos os lados, Tropa de Choque, Bombeiros, Policiais Militares e outros que me fizeram achar, no início que estava havendo alguma manifestação. Mas eram militares em um momento de descontração e de prática esportiva, é amigo, a corrida de rua é um dos eventos mais democráticos que existe, se não “o mais”. Inclusive, meu amigo-corredor Antônio Carlos Araújo foi segundo colocado na categoria militar.
Não era bem o que eu queria para um domingo gelado, mas era o que tinha, e me contentei de ter. Queria mesmo era colocar a mochila de hidratação nas costas e fazer um daqueles longões que duram de duas a três horas...
A prova era constituída de duas voltas de2,5 km sendo 1,5 dentro do parque e o restante na rua, foi bem tranquilo, e apesar de já sentir meu joelho bem melhor não quis arriscar, e fui mais faceiro que mosca em tampa de xarope, como disse no início, minha intenção era de fato, participar dessa prova ”boenacha”, como diriam os velhos xirús: “Flor de Corrida”.
Fechei em 00:28:15, três minutos a  menos que na prova anterior, também da mesma distância, revi muitos amigos, participei de mais um evento esportivo, cruzei mais uma linha de chegada, coloquei mais uma medalha no peito.
Não entendo porque tantas pessoas não conseguem ser felizes.
Terminamos esse post na “capa da gaita”, com o sentimento de que o baile se segue, apesar de numa carga bem menos do que a que esperava mas o ideal é não parar.
“não existe primeira sem segunda, segue o baile gaiteiroooo... E que venha a Maratona domingo que vem.

domingo, 10 de junho de 2012

Encontrando amigos



Após uma semana de muita chuva, muita chuva mesmo, pense numa chuva... aconteceu no Nippon Country Club, em Arujá a Corrida da Amizade. Até achei que seria minha estreia debaixo d’água, mas no momento da prova ficou apenas na garoa fina e muito fria. Além de temperatura baixa, por volta dos 14/15 graus.

A prova foi em um clima muito amistoso, a amizade não era só no nome do evento, pois a maioria dos atletas eram orientais e nos receberam muito bem, eu me senti bem recepcionado, em casa. O povo oriental tem uma cultura milenar que é seguida sempre à risca, uma delas, como bem ouvi por aí, é tratar bem seus convidados, e assim aconteceu. Além disso, tive a oportunidade de conhecer o clube, pois, jamais pensei que existisse aqui na cidade um clube com tamanha proporção e de qualidade impecável. Pois é, a corrida de rua sempre nos proporciona momentos e descobertas.

Quase todo nosso grupo dos Corredores do Bosque estavam lá. E a novidade foi o sogrão “Ratuera”, e a sogra terem ido, por fim, além da Vivi e a Cidão (com a calça da Tina Turner).
kkkkkk - Sempre casmurro esse sogro!!!

Ando seguindo o lema: “Melhor que chegar rápido, é chegar bem”, e é sempre bom chegar, ainda que em um tempo muito diferente do de costume. O vento gélido no rosto e o clima de corrida, de amizade e superação te tomando por completo. Fui de vagarín junto com o Dan, curtindo a corrida. Na ida ainda deu pra curtir a galera sentando o relho, na frente íamos avisando o pessoal suas respectivas colocações, tivemos três pódios no nosso grupo, inclusive do nosso professor Alexandre, que mandou muito bem.

Foi uma festa, como de costume, terminamos os 5 km por volta dos 30 minutos, contando os descontos da largada, mas e daí? Há poucos dias cheguei a pensar que nunca mais cruzaria uma linha de chegada.

Essa é uma das provas que entra definitivamente no calendário, ano que vem estarei lá outra vez. De resto foram apenas risadas e descontração com a galera, apesar da chuva que agora sim apertou um pouco, mas nada foi capaz de estragar o dia. Que venham outros. Muuuuuuuuuuuuuuuuitos outros!























quinta-feira, 7 de junho de 2012

Levanta a cabeça e corre




Todos sabem que o coração de um corredor deve estar sempre “em dia”, pois além de suportar o “repuxo” dos treinos ainda tem que suportar a emoção das corridas. E mais, sabe-se que uma corrida é emoção garantida. Ah, se é... Não resta dúvida.
Após um longão de 25 quilômetros o joelho “reclamou” e não tive como não ouvi-lo, se bem que eu até fingi por um tempo que a coisa não era comigo, mas não teve jeito, no meio de um fartlek veio uma dor aguda e insuportável. Eu bem sabia do que se tratava, mesmo assim tentei resolver com diclofenaco, salonpas, gelo e descanso. Uma semana depois, fui tentar um trote leve e... Dor, muita dor. Muita sorte termos amigos, e nessa hora foram fundamentais. O Professor Alexandre já no dia seguinte marcou com urgência um ortopedista especialista em joelhos, inclusive é o mesmo que cuida do joelho dos atletas aqui de Guarulhos. Um olhar e dois toques no joelho veio a notícia: ***CONDROMALÁCIA PATELAR***. A notícia me caiu como uma explosão nuclear. Meu chão se abriu, saí desnorteado do consultório, não havia me dado conta do que estava acontecendo, a ficha não caiu na hora, ou melhor, caiu sim, mas eu estava irracional demais para ser otimista, na hora o que ouvi do médico foi: “Você está com câncer terminal e tens apenas mais uma semana de vida”.
Após muito conversar com alguns veteranos fui me dando conta de que o problema não era o fim do mundo, e que eu poderia sim, correr normalmente, desde que eu fizesse a coisa certa – fui avisado desde o início, mas não dei a mínima – e procurasse urgente uma academia para fazer um bom fortalecimento muscular. Sim, fui um grande irresponsável por exigir tanto de minha musculatura sem nenhum tipo de trabalho de fortalecimento.
A semana se arrastou, não fui mais mais treinar e nem vi nenhum de meus amigos-corredores. Mas que semaninha difícil, foi amarga, triste, sei lá, não consigo definir. Até que a Viviane – que foi minha fortaleza, que me carregou no colo quando eu mesmo não podia mais com as próprias pernas – disse que era sim, para eu ir até Jundiaí, ainda que fosse apenas para acompanhar o Wesley e o Sensei Hideaki. Como de costume, no sábado à noite arrumei todo meu material pós-prova, o tênis, escolhi uma camisa e fui dormir ansioso, pois muita coisa me esperava na manhã seguinte.
Pegamos a estrada bem cedo e logo chegamos ao Parque da Cidade, um lugar amplo, arborizado perfeito para uma corrida. Kit retirado, camisa colocada, chip no cadarço e a tensão começou a tomar conta de mim. Só pensava no dor, só focava o problema, nem deixei o clima gostoso tomar conta de mim, dava sorrisos discretos, amarelos e sem graça aos amigos que acenavam pra mim, acho que eu já “comecei o jogo” perdendo de 1 X 0.
Como citei acima, a corrida sempre nos reserva muitas surpresas, e essas já começava a mostrar sua cara quando eu olhei no meio do “bolo” de corredores e vi Sandra, vulgo “Sandrinha”, uma amiga-corredora que me abriu um sorrisão com um misto de alegria e preocupação. Deu-me um abraço bem forte e foi logo perguntando do meu joelho. Esse abraço me passou tanta segurança que eu tive certeza que nada de mal iria me acontecer naquele dia. Com uma experiência de vida de quem pode ser minha mãe mas com um espírito jovem que possui a Sandrinha me passou alegria, segurança e vontade de superar-me mais uma vez.
Com o Wesley do lado fui para a largada, fiquei por ali jogando papo pro ar até que a largada fosse dada. O percurso não era dos mais fáceis, uma subida “daquelas” logo na primeira curva, antes mesmo dos primeiros 150 metros. Todo de terra com muitas subidas e descidas ele passava uma falsa impressão de ser fácil, mas eu não caí na armadilha dele, e fui seguro e tranquilo no “trotinho”. Não estava nem ai se fosse o último a cruzar a linha de chegada. Não estava nem ai se fizesse um tempo muito acima do meu normal, eu queria mesmo era correr, estar ali no meio, sentir o vento no rosto, ver pessoas, suar e ser feliz.
No quilômetro 06 – o penúltimo – eu senti uma “fisgadinha” no dito cujo, mas nada sério, não era mais aquela dor aguda de outrora. Mesmo assim diminui bem o ritmo. O percurso cheio de idas e vindas fazia os corredores se cruzarem o tempo todo, e por várias vezes o Wesley e eu nos cruzamos e um gritava para o outro: “Força aê manooooo”.
 Após uma curva bem fechada enxerguei “ele”, o pórtico, o reduto do triunfo, o descanso dos justos, o pote de ouro no fim do arco-íris. Mantive o ritmo, sem sprint, sem me afobar. Senti um nó na garganta, mas não chorei, senti a emoção de mais uma vez estar naquele ponto da conquista, dessa vez mais difícil, só para a vitória ficar mais gostosa. E foi.
Cruzei o pórtico e pude ver que a maioria do pessoal estava lá, e acenaram pra mim. Coloquei a medalha no peito mas não parei, faltava ainda um grande detalhe: buscar o soldado que tinha ficado pra trás. Voltei e cruzei o pórtico outra vez, só que agora de “trás pra frente” e encontrei meu amigo-corredor e sobrinho Wesley passando pela última placa, dei um abração nele fomos juntos até o fim, quer dizer, ele até deu um Sprint no auge de sua empolgação, mas eu não o acompanhei, era o momento dele, e o deixei saborear cada instante de sua maior conquista, por enquanto. O meu pagamento veio depois, quando ele pegou sua medalha e a entregou a mim dizendo: “Tome, coloca em mim.” Foi sua maneira de dividir comigo aquele momento, foi a forma que ele achou de dar pra mim um pouco de sua glória, sua conquista. Isso é impagável, emocionante.
Fomos até a dispersão e quem estava lá me esperando? A Sandrinha e todo o resto da galera. Mais uma vez ela me abraçou e perguntou do meu joelho, afinal de contas o percurso era “encardido”. Mas estava tudo bem, eu tinha conseguido, mas desta vez não sozinho. A corrida é o único esporte individual que se ganha no coletivo, todos ganham, sempre, você já ganha quando não desiste, já ganha quando acorda cedo e vai pra rua correr. Depois de tudo foi o momento das fotos, da harmonia, da bagunça. Nossas missões já haviam sido cumpridas. A medalha já estava no peito. Mais uma vez.



Olha a Sandrinha, pessoinha que me ajudou muito