"Em algum ponto da vida parece que confundimos conforto com felicidade. Eu acredito que é exatamente o contrário. Há magia no sofrimento, é só perguntar a qualquer corredor"
DEAN KARNAZES - Ultramaratonista
Bem como
foi no ano passado, a corrida Tribuna FM, em Santos não poderia ter sido
diferente. Eu havia exaltado a organização e a qualidade do evento e esse ano
eles não me decepcionaram. Descemos no sábado pela manhã e já fomos direto
buscar o kit, antes mesmo de irmos ao hotel. O Sensei Hideaki foi conosco para
contemplar mais um belo domingo de corrida no litoral.
Depois de
dar entrada no hotel até demos uma passada na praia para o Rodrigo tomar seu
primeiro banho de mar, uma pena que o tempo estava nublado, e o banho de mar
foi só nos pezinhos mesmo, mas está valendo.
O resto
do sábado (chuvoso e entediante) foi no hotel mesmo esperando o domingo, exceto
a hora que saímos para jantar.
Domingo
bem cedo desci para tomar café e partir para a corrida. Tomei um breve dejejum
e fomos para a largada, o problema foi ir até lá, não tinha como irmos, pois
todos os ônibus passavam cheios, sem vagas, se quer paravam nos pontos. Fomos
de táxi mesmo.
Chegando
no local do eventos fomos recepcionados por uma atmosfera típica dessa prova, a
galera nas escadarias tirando fotos , se abraçando, curtindo e fazendo festa. Falando
em festa, logo de cara encontramos o Itmura e o Corretor Corredor, além de outros
amigos-corredores. Como é bom encontrar essa gente boa.
Fui para
o local da largada demarcado pelo meu ritmo de corrida e quando fiquei sozinho me
bateu uma emoção muito grande, algumas lágrimas caíram, não vou negar. Estar na
largada de uma corrida – bem como durante ou mesmo ao cruzar uma linha de
chegada – é um momento único, sem igual, ímpar. Mas além disso lembrei do pouco
que falta para minha estreia na maratona, lembrei da minha cidade do coração,
cidade que adotei e que me adotou, lembrei de tudo que já passei para estar ali
correndo, e agora tão próximo de realizar a maior meta da minha “carreira” de
corredor.
Não quis
correr, de verdade, não fui para correr ou marcar tempo, ou tentar superar a
marca do ano passado. Curti cada metro das ruas de Santos. Curti o pessoal
fantasiado, os que iam gritando no caminho. O pessoal que ia acenando das
janelas, os que colocam música e ficam na calçada dançando e participando da
festa de seu jeito peculiar, as “tiazinhas” que vão buscar pão no domingo cedo
e param um pouquinho para ver os corredores passarem, e aplaudem.
Fui
passando e cheguei ao ponto onde estavam a Vivi e o Rodrigo, parei, pois não
estava preocupado com nenhum tempo, abracei meu filho e minha esposa, tirei
foto, brinquei com o público, sem compromisso, sem nenhuma neura.
Voltei
pra corrida e ouvi algumas piadas trocadas entre corintianos e santistas, ri,
balancei a cabeça e continuei correndo. Passei pelo DJ e depois por um grupo
que estava cantando um conhecido funk e riam alto, ri também, não era momento
para entender o gosto musical das pessoas, era momento de festa.
Passei
tranquilo pela estreita rua do canal que leva à praia, nesse momento reparei
que estava muito abaixo do meu pace normal, acelerei um pouco só para lembrar como
seria se fosse “valendo”, mas não era, era só festa.
Uma
curiosidade é que na hora que estava passando pelo palco Rock’ n’ Roll, estava
tocando exatamente a mesma música do ano passado, que coisa não? Será que a
banda combinou comigo. Tinha um “maluco” pirando na frente do palco com um
turbilhão de adrenalina o consumindo, ele pulava, cantava em um bom “ingrêis”,
jogava as mãos freneticamente para cima e para os lados e balançava a cabeça.
Sabe de uma coisa? Morri de inveja dele, fiquei com vontade de parar e fazer o
mesmo.
Terminei
a prova da forma como comecei e conduzi, brincando, rindo sem compromisso, como
a corrida de rua deve ser.
Este será
o provável mais longo post desse blog, e pra mim um dos mais emocionantes e
difíceis de ser escrito.
Não sou
tão bom com edição de imagens como meu Professor Eduardo Acácio do (http://www.porqueeucorro.com.br/),
mas ainda assim se pudesse escolher uma imagem para essa postagem seria uma
mistura de surpresa com indignação.
Não
acredito em destino, ou que realmente há um regulador de nossas vidas com uma
caderneta para cada um de nós pesando o que deve ou não acontecer em nossas
vidas. Já cresci para fazer amigos imaginários. Mas em uma ocasião como essa eu
poderia muito bem afirmar que existe uma força me empurrando, ou melhor, uma
força manipulando os fatos para que tudo se desenhe de uma determinada forma,
mas não há força alguma, é apenas o acaso me pregando mais uma peça. Não estão
entendendo? Nem eu, mas vou tentar explicar.
Desde
meados de novembro do ano passado, e oficialmente no dia 08 do referido mês,
deixei aqui (http://ironmangfbpa.blogspot.com.br/2012/11/projeto-maratonasp-2013-1.html)
registrado minha vontade de correr uma maratona. Desde então tracei metas,
planos, estratégias, me preparei psicologicamente para a sequencia de treinos,
li milhares de blogs e sites sobre estreantes em maratonas, passei boa parte de
minhas férias (pós São Silvestre) debruçado sobre minha planilha montado
treinos.
Além
disso, mudei a alimentação para que essa fosse mais regrada e se aproximasse a
de um maratonista, passei boa parte desse tempo na academia puxando ferro,
suando feito um desgraçado, sentido doer – com extrema satisfação – cada
músculo do meu corpo.
Devo,
aliás, agradecer imensamente ao Clebão, que foi muito além de um orientador
físico (porque personal trainer é coisa de fresco), foi conselheiro, técnico,
amigo, companheiro de horas e horas de treinos no meu “laboratório”, com
centenas de horas de conversas descontraídas, agradáveis, inteligentes e
construtivas, sempre apoiando, dando “aquela” força para eu continuar. E
continuei, mas...
No início
de março recebemos a fatídica notícia de que a Maratona de São Paulo havia sido
adiada para outubro (Não, não vou utilizar esse espaço para detonar com a
Yescom) e me vi sem chão. Tentei não me dar por vencido, e tratei logo de
planejar a planilha para o plano B, a Maratona do Rio de Janeiro.
Na hora
da cabeça quente eu não pesei alguns itens necessários e comprometedores, o
fato é que a coisa fugiu do controle. Seriam dois meses a mais de treinos
puxados, pesados e estressantes. Descobri também que correr por diversão é uma
coisa, mas ao ponto que se torna um treinamento rígido, com uma meta, com
obrigações com planilhas e dias e mais dias de treinos a coisa ganha outro
rumo.
Cheguei
ao meu limite, em todos os sentidos.
O fato é
que eu não aguento mais. Não fisicamente, mas é coisa de cabeça, treinar forte,
treinar forte, treinar forte. Isso cansa, e tem outras coisas a pesar nessa
história. E é de fato o elemento mais importante de todos: A FAMÍLIA.
Com o
término da planilha, no dia 28 de abril, meu treino haveria de mudar, uma vez
que não eram mais necessários os treinos que vinha fazendo, para tanto deveria
passar a rodar de 40 a 60 km por semana para manter o condicionamento. Qual é o
problema nisso para quem já treinou 16 semanas?
Acontece
que por diversas vezes me veio algo à cabeça, será que tenho mesmo que fazer
isso? Preciso mesmo disso? Sim, preciso. E quero. Mas eu não estou só. Os
malucões que já fizeram isso sabe que uma sequencia de treinos para uma
maratona nos afasta de outras coisas do nosso dia a dia. Um fato mudou toda a
trajetória desse projeto, que era a Maratona de São Paulo, em um segundo
momento a Maratona do Rio de Janeiro e que agora é simplesmente o projeto 42.195.
Um dia fui buscar meu filho já passavam das 21h30 e ao me ver ele disse “papá”, chorou e veio gatinhando para o
meu colo.
Eu o
tinha visto às 6h00 da manhã e ao me dar conta que fiquei quase 16 horas sem
ver meu pequeno, e ainda me deparar com um filho que estava morrendo de
saudades do pai resolvi estipular quais eram de fato minhas prioridades. Não posso mais sacrificar minha família por
conta de uma maratona.
E todos
os que já fizeram isso sabem que por um instantes é preciso sim, abrir mão de
muita coisa para treinar. Já passei muitas horas longe de casa para treinar,
muito tempo longe da minha família foi necessário para fazer longões
intermináveis. E mais, depois de treinos longos, que geralmente são feitos aos
finais de semana o que sobrava para minha família era um pai cansado e sem
pique para brincar. Na maioria das vezes eu queria dormir e me recuperar.
Simplesmente chegou o ponto de que não posso continuar sendo tão relapso e
perder tanto da minha família para treinar.
Isso quer
dizer que acabou o sonho da maratona? Não, jamais, será antecipado. O plano que
era o A, que depois virou o B, agora é o C, que se tornou o A. Dia 16 de junho
vou à Porto Alegre realizar a meta dos 42.195.
Foi uma
decisão difícil, tomada em família, nas últimas semanas estava vendo a Viviane
apreensiva e meio tristonha, algo que me aborreceu um pouco, e numa conversa
bem franca ela me disse sobre os problemas de ir ao Rio de Janeiro, por
diversos motivos, mas o principal é o Rodrigo, que na ocasião terá um aninho.
Seria a viagem de mais de 4 horas de carro, além do que ele, pelo que tudo
indica, tem tolerância a comidas com corantes – ou seja, quase tudo – isso quer
dizer que ele precisa se alimentar de comida fresca e saudável, aquelas feitas
em casa, saca? Nada de comida industrializada, ou de restaurantes, seriam cinco
dias de viagem, quase impossível imaginar alimentação saudável por todo esse
tempo, além disso, o convênio não cobre fora do estado de São Paulo, se algo
acontecer com ele, lá vamos nós para hospital público. Imaginem vocês.
Concordo
com tudo que ela afirma, o Rodrigo ainda é muito pequeno para ser exposto à
tudo isso. Além, é claro do fato citado acima de que até lá são mais dois meses
de treino, e eu não quero mais precisar passar por tudo isso. Não sei se a
maratona do Rio será abortada por mim, mas o foco nesse momento é Porto Alegre.
Porto
Alegre é a cidade do coração, muitos dos melhores momentos da minha vida foram
vividos nessa cidade, e como tenho história lá...
Voltar à
Porto Alegre é sempre emocionante, sempre um momento único, ímpar, sempre
representa muito pra mim. É a capital do estado que aprendi a amar
incondicionalmente, que carrego no coração e na pele.
Tenho
certeza de que será uma das mais emocionantes corridas, não bastando ser a tão
sonhada maratona, ainda teria que ser no Rio Grande do Sul, estado que me
acolheu, berço de Flores da Cunha, de Borges de Medeiros, Teixerinha, Humberto
Gessinger e outros milhões de gaúchos ilustres.
Uma das
mais emocionantes cenas que já imaginei seria minha famílias me esperando na
chegada da maratona. Depois de ultrapassar todos os limites que o corpo humano
pode suportar, depois de todas as dores a ser sentidas no final dos 42.195
metros, a coisa que mais gostaríamos de ganhar é o abraço da família, mas não
será possível, eles não estarão lá, mas vão me apoiar de longe, eu sei que vão,
vou sem eles fisicamente, mas vou, pois não posso desistir agora.
Vou com a
cara, com a coragem e a vontade de completar minha primeira maratona, vou com
determinação, e com o coração apertado, pois é a primeira vez que piso em solo
gaúcho sem a Viviane, vou lembrar de todos os momentos que vivemos juntos lá,
vou visitar a mais nova Arena Grêmio e lembrar das vezes que fomos ao Olímpico,
e o que dizer do GreNal 377? Que dirá na hora que a maratona passar nas
imediações do Olímpico, que não sei se já estará demolido. Acho que uma das coisas que mais passará pela minha cabeça é o quanto eu fiquei longe da minha família para poder estar ali naquele momento e eu prometi ao Rodrigo que eu faria valer a pena. Por isso vou à Porto para completar minha maratona, a qualquer custo.
Tomar
chimarrão com os velhos amigos, visitar outra vez o mercadão, passar pela
Estátua do Laçador, sentir o frio gaúcho vai me emocionar muito, principalmente
sem a Vivi e o Rodrigo.
Visitar minha grande amiga de infância - e afilados de casamento - Sandrinha e seu marido
Leandro, conhecer a Júlia vai ser muito bom. E como diz Cleiton e Cledir: "Quando eu ando assim, meio down, vou pra Porto e Bah, tri legal"...
Porto Alegre é um lugar
apaixonante, o Guaíba, a Usina do Gasômetro, a arquitetura em formato de
caravela faz de POA – só para os mais íntimos – uma das capitais mais lindas do
mundos, o melhor lugar do Brasil em qualidade de vida.
É disso que o velho gosta, é isso que o velho quer...
Ainda que
eu já tenha feito algumas dezenas de corridas eu sabia que a estreia em uma
nova modalidade seria tensa. Na noite anterior eu tive problemas para dormir, e
como já era de se esperar, acordei bem mais cedo do que o esperado.
O evento
Ecoduathlon foi promovido por atletas, corredores, Triatletas, Biatleteas e
Duatletas, portanto não esperava menos, sabia que seria bem organizado.
Cheguei
no Bosque por volta de 6h30, antes disso ainda passei no posto para calibras os
pneus na bicicleta e fui rumo ao evento, estava mais tranquilo, mas um pouco
apreensivo por não saber o que me
esperava.
Encontrei
muita gente conhecida, por isso fiquei um pouco mais tranquilo, e quando
comecei a ver os atletas chegando senti uma certa emoção que não da pra
explicar, era um sentimento de pertencer a um seleto grupo que faz a vida valer
a pena... E eu estava lá. Bem é verdade que algumas bicicletas que ali estavam custavam
alguns amontoados de dinheiro, as da marca Cervelo chegam a custar 30 mil reais,
mas e a minha Caloi, velhinha, barata, rodada e suja, daria conta?
Fiz o
check in e só então me dei conta que não teria mais como voltar, agora era
traçar uma estratégia e completar a prova.
Pontualmente
a largada foi dada, eu saí bem tranquilo, não sabia exatamente o quanto a
bicicleta cobraria de mim, portanto não rodei muito forte nos 5 km, uma vez que
não tinha a menor ideia do que seria correr depois de pedalar 20 km.
O
primeiro trecho foi bem tranquilo, serviu para aquecer bem, não me preocupei
muito com tempo, tampouco com a corrida, já que minha maior preocupação era a
transição. Estava realmente muito atento a tudo, não estava utilizando fone de
ouvido justamente para ouvir todas as orientações dos organizadores, e por fim
chegou a transição...
“A sequencia seria”. Pensei
antes de chegar à transição. Primeiro trocar os tênis, trocar de camiseta, afivelar
o capacete, organizar a camiseta e o tênis bem em frente ao cavalete, retirar a
bicicleta. Tudo saiu como planejado, e bem antes do que esperava já estava
empurrando a bicicleta rumo à faixa limite para pedalar, já que não é permitido
pedalar na transição.
Eram
quatro voltas no trecho de 5 km, muito conhecido por mim, pois é o mesmo trecho
da ciclovia que eu já frequentei muito. Não neguei esforços, pedalei sem medo,
gastei sem pensar quase tudo que eu tinha no pedal. Se eu conseguiria correr
depois? Eu certamente tentaria, ainda sim, detonei nos pedais. A Caloi foi que
foi, tudo bem que eu não podia exigir muito dela, mas na hora “H” ela não negou
fogo. Foi com uma centena de barulhos, mas foi. Foi com apenas duas marchas,
mas foi. Foi com o pedevela estralando, mas foi. Foi com os freios desregulados,
mas foi. É até engraçado dizer tudo isso, mas minha Caloizinha, que ganhei na
rifa, que já era de uma certa promoção de uma certa emissora de TV... Foi que
foi.
NO final
da primeira volta eu vi a Viviane e o Rodrigo ao lado da entrada do Bosque, que
alegria, minha família estava ali para prestigiar minha estreia, claro que isso
me deu novo ânimo. Foi muito emocionante pedalar um uma competição oficial,
vou, certamente, melhorar as condições de minha bike nas próximas edições, uma
vez que eu precisava sentir na pele o que era pedalar assim.
Ao
completar as 4 voltas voltei para a transição e novamente coloquei a estratégia
em prática, descer antes da faixa limite, colocar a bicicleta no cavalete,
trocar os tênis, tirar o capacete e correr. Tudo dentro do esperado, exceto a
tremedeira das pernas na hora que desci da bicicleta, já era de se esperar, a
mecânica utilizada para pedalar é bem diferente da de correr, isso leva um
tempo para acostumar, mas ainda assim eu fui.
Os
primeiros passos vão desajustados, feios, como os de um bebê quando está
aprendendo, mas logo se pega o jeito. Fiz o terceiro trecho com um pace abaixo
dos 5’, e passei muito dos atletas de Speed que largaram 10 minutos antes de
nós, o fato de ser corredor me deu uma certa vantagem. Além disso, ainda recebi
o apoio da Vivi e do Rodrigo que acenavam pra mim.
O
primeiro trecho, corrida de 5 km eu terminei com 00:25:26, a primeira transição
eu fiz em 00:01:56, os 20 km de bicicleta foram em 00:50:51, a segunda transição em 00:01:19, e
os últimos 2,5 km em 00:12:54,
totalizando 01:32:27. Terminei a prova no 39º lugar, e haviam 75 inscritos na minha
modalidade. Nada mal. Muito Feliz, não vejo a hora do próximo, que será em 1°
de setembro.