Correr uma São Silvestre para muitos é um sonho, para outros uma meta,
para mim era apenas umas questão de fechar bem minha temporada de corrida. Nada
demais, sério, uma corrida como as outras. Mas não foi bem assim...
Desde a retirada dos kits já deu para sentir a diferença, o clima é
outro, os corredores são os mesmos, mas a postura é outra.
Fui acompanhado por uma galera. Tia
Ivone, a Val, o Sensei e a Viviane que fez questão de me acompanhar nessa
festa. Adorei muito sua presença. Deixamos o carro no Tucuruvi e seguimos de
metrô até a Paulista, pois, tínhamos o receio de que deixar o carro lá fosse
nos trazer complicações.
Ao chegarmos observei que muita coisa não era realmente como alguns
haviam “pintado”. Ouvi horrores com relação a prova que na verdade não foi o
que ocorreu na prática. Não tinha nenhum atleta urinando tampouco “cagando” na
rua. Tinha muita gente sim, mas nada que eu já não tenha presenciado.
A São Silvestre é sim, uma prova diferenciada, a mística que a envolve,
a tradição, são elementos que moldam e dão à ela uma singularidade única,
intransponível, só estando lá para saber.
A largada foi dada e com ela tocou o tema Carruagem de Fogo, nessa hora
meu amigo, não tem machão que não caia em lágrimas, não há hombridade que
resista. Não fiz questão nenhuma de esconder, deixei o choro cair sim, era hora
de “reviver” uma ano cheio de altos e baixos, onde pensei por um instante que
não voltaria a correr.
Ao sair da Paulista e entrar no túnel me dei conta que eu estava fazendo
parte da história, e chorei ainda mais ao lembrar do Rodriguinho, chorei pois
poderei contar pra ele que eu já corri uma São Silvestre.
Passada a emoção do início veio a hora de cair na real e “entrar” na
corrida, que não é fácil. O trajeto tinha muita variação de altimetria, o que
mina a gente aos pouquinhos, apesar disso nos mantivemos bem. Fui acompanhando
o Sensei, pois não queria deixa-lo em um percurso tão grande, por isso mantive
um pace bem diferente do meu, mas absolutamente isso não faria nenhuma
diferença, era dia de festa. Falando em festa, uma das melhores partes da São
Silvestre são as pessoas que ficam assistindo, durante quase todo o percurso
foi possível observar a galera gritando e incentivando os atletas, era uma
festa só.
Havia também muitas curvas nesse novo percurso, coisa que acho bem
chato, barbaridade. Ao sair do Largo do Arouche veio uma subidinha bem
encardida, mas que tirei fácil, ao nos aproximar da tão temida Brigadeiro já
dava pra sentir o friozinho na barriga, pois ouvi falar tanto dessa tal subida
da Brigadeiro que estava de fato ansioso.
Ela veio ela...
Paradoxalmente ela tem um pequeno
trecho de descida, bem no início. Adoro subidas, acho que já disse isso aqui,
mas a Brigadeiro tem algo a mais a envolvendo. Mantivemos o mesmo pace, apesar
do Sensei não gostar de subida. Nessa hora veio uma das partes mais
emocionante, havia um grupo de amigos empurrando um triciclo de um atleta
deficiente, apertei o pace, me aproximei do grupo e pedi para conduzir o
triciclo, e como isso me fez bem. Fui empurrando Brigadeiro acima e por onde
passávamos ouvíamos os gritos e aplausos de incentivo. Conduzi-o até o
quilômetro 13,5, quando um dos membros do grupo me pediu a direção, foi muito
bom ajudar aquele atleta cadeirante a sentir a emoção de concluir uma corrida.
A tal Brigadeiro não acabava nunca, porém – agora eu posso falar com
conhecimento de causa – ela não é tudo aquilo que ouvi falar. Não estou
subestimando-a, jamais faria isso, mas já peguei coisa pior.
O ano passado eu ouvi muitos corredores reclamando o fato do percurso
ter mudado, a chegada na Paulista era o principal alvo das reclamações, e de
fato assim deveria ser. Ao sair da Brigadeiro a gente sente uma emoção muito
grande. A toda poderosa Paulista se rendeu a mim, a todos nós corredores. Adentrá-la
é realmente indescritível, as pessoas simplesmente vão ao delírio ali naquele
trecho, pois muitos dos que ali estão ficam procurando seus familiares e amigos
corredores, é quase ensurdecedor, mas não poderia ser diferente.
Cruzamos a linha de chegada e por fim, foi só curtir a meta alcançada.
Depois voltamos ao lugar combinado e dava pra ver nos olhos de cada um de nós a
emoção única de correr uma São Silvestre. Minha mãe, durante todo o resto do
dia fazia questão de falar pra todo mundo que “seu filho tinha corrido a São Silvestre”. Que bom, ainda fui motivo
de orgulho pra ela.
Correr uma São Silvestre é realmente uma experiência diferente, apesar
das críticas, do preço abusivo, e do AMADORISMO CRÔNICO da Yescom, eu precisava
disso. Ainda que eu jamais volte a participar eu precisava disso. Eu tinha que
viver isso para poder falar sobre. Eu tinha que ter essa carta na manga. Eu Precisava,
ainda que uma única vez. E assim o fiz.
PS: Obrigado Vivi, obrigado Capitão,
vocês são minha estrutura, a rocha na qual sobe o alicerce dessa família. Devo
tudo à vocês.
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