domingo, 12 de fevereiro de 2012

Quando a combinação da certo

                        Uma combinação quase irresistíveis de fatores me levaram a crer que, primeiro: não existe acaso, existe oportunidade, e tu mesmo é quem a faz. Segundo: não existe sorte, existe treino, luta, perseverança, comprometimento, fibra, vibração, vontade de vencer, esforço e garra. Todo o resto é apenas uma combinação destes elementos junto com outros que independem de suas próprias ações, e foi isso que aconteceu nesse domingo dia 12/02/2012.
           

            Acontece que quando me programei para correr o Circuito do Sol, nem fazia idéia da semana que eu teria antes da prova. Voltei a dar aula – e que delícia – justamente nessa semana, dia 06/02, e é aí que entram os fatores isolados: Ministrei nada menos que 51 aulas durante essa semana, isso me deixou simplesmente moído, passei a semana praticamente me arrastando. Falta ritmo, é claro, estava de férias, já imaginava que seria assim bem corrido, mas ainda leva um tempinho para entrar no ritmo de tantas aulas com mãos levantadas e olhos tão curiosos daquela “galerinha” show de bola do Colégio Adonai.
           
           
            Não bastando isso, treinei segunda e quarta com a equipe do Bosque Maia. Ah sim, terça-feira fui para o judô e, diga-se de passagem, o treino foi pesado.
           

            Bom, contabilizam-se, também, dores na perna – o que me fez recorrer ao bom e velho nimesulida – cansaço, um calor dos trópicos castigando a vida dos guarulhenses, um sábado atípico, dia de buscar kit lá no cetro de São Paulo, fazer Supermercado e ir na casa da mamãe Ana instalar internet, subir e descer escadas, apertar parafusos, e claro, passar algumas horas – com dor na coluna – ajudando a mamãe a entender o mundo virtual.
           

            Por fim, chegou a hora de ir à prova. Pensava  o tempo todo nas pernas fadigadas de subir e descer escadas no colégio a semana toda, passar 90% do tempo em pé correndo prá lá e pra cá na sala de aula. Mas principalmente estava visando os 10 quilômetros que eu teria que percorrer para colocar mais uma conquista na conta.
           

            Como não poderia deixar de ser, mais um fato isolado me fez pensar que essa prova seria problemática: o mp4 simplesmente não funcionou. Parou, se recusou, até ele não agüentava mais, e olha que eu estava apenas postado na largada. Pensei: “Já que não tem jeito, vai sem música mesmo. Terei de correr sem Dream Theater e AC/DC.
           

            E lá fui eu, mantive um bom ritmo, no mínimo confortável, sem correr riscos, pois o percurso ainda era desconhecido. Desci bem e logo peguei a Pacaembu. Outro fator relevante nessa prova, foi que o homenageado e anfitrião Sol não apareceu, e pra falar a verdade até garoou um pouco, o que ajudou muito. A primeira subida foi na Rua Marta, e essa “pegou”, foi brava, mas não diminui o passo, fui firme e forte rumo ao Minhocão, este por sua vez é "traiçoeiro um barbaridade", parecia não ter fim, mas eu sabia que quando enxergasse o retorno eu já teria completado metade de prova. Quando eu virei e vi o “mundo de gente” que eu tinha deixado pra trás comecei a pensar que algo diferente estava acontecendo, pois me sentia muito bem fisicamente. Apertei ainda mais o passo – com segurança – e comecei a deixar os quilômetros e muito corredor pra trás. Lembrei das palavras do “Seu” Alcides, amigo corredor da Equipe Bosque Maia: “Guri, quando tu ver a descida, ‘senta o pau’.”
           

            Os pontos de hidratação serviram mais para refrescar as costas do que propriamente matar a sede, mas foram de grande valia. O penúltimo fato isolado dessa corrida foi que na Pacaembu, já voltando, passei por dois corredores que conversavam sobre o tempo da prova – isso não teria acontecido se eu tivesse com o mp4 funcionando – e isso mudou sim, mais uma vez o destino dessa corrida, pois um deles disse que já haviam corrido 49 minutos de prova. Isso era muito bom, perfeito, pois restava apenas 1 quilômetro na minha frente, e meu record de 00:57:17 estava prestes a ser triturado. Apertar ainda mais o passo – agora já não com tanta segurança -, mas fui, corri forte até sentir me faltar ar nos pulmões, a respiração já não era cadenciada, o nariz ardeu, mas as pernas estavam firmes e fortes.
           

            O último fato isolado que mudou o resultado dessa prova foi o meu total desconhecimento do percurso, pois pensei que terminaria no mesmo pórtico do pessoal que correu 5 km, uma retinha tranquila. Para minha total surpresa não era, e para piorar teria que subir os 500 metros da Praça Charles Miller. Agora sim, me faltou ar nos pulmões, pernas, força e resistência. Só não faltou garra, esforço e aquele derradeiro golpe da peleja que já se arrastava desde o quilômetro 09. Não seria essa subida que tiraria minha glória. Mas não mesmo, eu cruzaria o pórtico ainda que me caíssem as pernas, ainda que colocasse os pulmões pra fora. Sem saber de onde me restou forças lá fui eu, antes de olhar para o cronômetro, que para minha total felicidade marcava pouco mais de 00:54:33, ainda consegui enxergar a Viviane que registrou a mais aguerrida cena desta prova.



           

            Record quebrado. Medalha no peito. Foi sim uma prova, um dia, uma semana atípica, diferente, ímpar. Talvez não fosse se não tivesse que subir e descer tantas lances de escada no Colégio a semana toda. Não teria sido se me sentisse totalmente descansado e “preparado”, “seguro” para correr 10 quilômetros que honestamente cheguei a pensar que não suportaria devido ao cansaço acumulado. Não teria sido se tivesse feito Sol. Não teria sido ainda que eu conhecesse o percurso. Não teria sido ainda que eu não tivesse que pensar que os 00:57:17 da prova anterior seria improvável dessa vez. Talvez não teria sido se o mp4 estivesse funcionando, dessa forma não teria ouvido os dois corredores me informando os 49 minutos de prova, o que me motivou ainda mais no quilômetro final. Não teria sido se não tivesse parado para pensar que todos os fatores isoladamente me fizeram superar o limite mais difícil de todos: o meu próprio. E principalmente, não teria sido se não soubesse que a qualquer momento, próximo da linha de chegada estaria a Vivi com o Rodrigo ou a Rafaela me esperando. Mas foi.












Professor Ademir é gremista fanático, mateador, corredor, teve uma de suas mais cansativa - e improvável – semana, e não acredita na sorte porque ele traçou seu próprio destino. Ainda que tantos fatores isolados parecessem conspirar contra.